reportagem especial

VÍDEO: envelhecer sem rótulos: o novo perfil da geração com mais de 60 anos

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Foto: Pedro Piegas (Diário)

Quando você ouve a palavra idoso, para onde o seu imaginário salta? Cabelos grisalhos, bengala e serenidade, certamente, fazem parte da imagem que muitos têm deste público. Porém, na contramão destes estereótipos e com a expectativa de vida cada vez maior no Brasil, essa população deixa para trás os rótulos do idoso cansado e dependente. Ultrapassar os 60 anos, hoje, não significa isolamento. É possível ser produtivo no trabalho, estudar, ter novos relacionamentos amorosos, praticar esportes e os mais diferentes hobbies.


Em Santa Maria, no último censo, realizado em 2010, eram 35.931 pessoas com 60 anos ou mais na cidade. Para este ano, a estimativa, conforme dados do Ministério da Saúde, é de que 53.404 idosos vivam no município. O fenômeno do amadurecimento da população é resultado da queda do número de filhos por mulher no país nas últimas décadas, combinado com a longevidade cada vez maior - a expectativa de vida para os homens brasileiros é de 73,1 anos; já para as mulheres, de 80,1 anos.

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IDOSO X SÊNIOR
Quem superou os 60 anos é considerado idoso de acordo com a Lei 8.842, assinada em janeiro de 1994. O decreto tem o objetivo de "assegurar os direitos sociais das pessoas mais vividas, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade."

Ocorre que, com os estereótipos e preconceitos que rondam esse público, o uso do próprio termo "idoso" já é colocado em xeque por pesquisadores.

- O uso de nomenclaturas como velho e idoso vem do século 19 e isso já está ultrapassado. Nas minhas pesquisas, eu sugiro esse rompimento desses termos considerados discriminatórios. Uma palavra mais adequada que eu proponho é sênior - afirma a pesquisadora Katiusce Faccin Perufo.

Estudiosa do tema da longevidade e professora do Instituto Federal Farroupilha de Jaguari, Katiusce aponta as grandes diferenças, em poucas décadas, na imagem que simbolizaria o "sênior". Ela também destaca outra característica que sustenta que pessoas com mais de 60 anos são heterogêneas:

- Precisamos lançar um novo olhar para os envelheceres humanos, que são processos plurais. O público com mais de 60 anos é heterogêneo. Quando temos um adolescente de 16 anos, em geral, sabemos a rotina dele sem nem conhecê-lo: ele estuda, talvez trabalhe, tem amigos? Mas, a partir dos 60 anos, vemos pessoas viajando, cuidando dos netos, outras estão em casa, acamadas, têm aquelas que estudam, trabalham. É um processo que não se iguala a nenhuma outra idade cronológica.

Exemplo disso é rainha Elizabeth II da Inglaterra, que completou 95 anos há seis meses, mas não se considera idosa. Foi o que alegou para recusar o prêmio de "idosa do ano" dado pela revista britânica Oldie, explicando em uma carta que a pessoa "tem a idade que sente ter", e que por isso a soberana "acredita que não cumpre os critérios relevantes para aceitar o prêmio". Nesta reportagem especial, contamos a história de pessoas que, assim como Elizabeth II, rejeitam os rótulos que estigmatizam as pessoas com mais de 60 anos e mantém uma vida ativa na terceira idade.

SANTA MARIA EM NÚMEROS

  • Último censo do IBGE (2010) - 35.931 idosos na cidade
  • Estimativa do IBGE (2020) - 48 mil idosos
  • DataSUS/ Ministério da Saúde (2021) - 53.404 idosos
  • Instituições de Longa Permanência para Idosos - 3 filantrópicas (Lar das Vovozinhas, Vila Itagiba e Oscar Pithan)
  • Clínicas geriátricas particulares - 21
  • Idosos que vivem abrigados nos lares filantrópicos e particulares - 677

CARDÁPIO PARA O BEM-ESTAR
De olho na mudança de perfil das pessoas com mais de 60 anos, uma startup de Santa Maria foi criada com o objetivo de criar uma ferramenta que reúne atividades, esportes e hobbies para esse público.

- Queremos ressignificar a cultura do envelhecimento, pelo fato de que as pessoas que estão envelhecendo hoje ainda são tratadas da mesma forma como quem envelhecia há 40 anos, quando a expectativa de vida era de aproximadamente 50 anos - explica o estudante de Medicina Felipe Dobrachinski, um dos sócios da startup.

A Hybris oferece um catálogo com empresas parceiras. A pessoa escolhe a aula, confere o valor, o endereço e a data. As atividades são feitas na estrutura física da empresa parceira e incluem teatro, crossfit, culinária, reiki, dança, entre outros. Os interessados podem fazer uma aula experimental gratuita.

HYBRIS

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Foto: Marcelo Oliveira (Diário)
Gelson (com a bola) joga no clube do São Miguel no futebol de veteranos 

ELES TÊM PIQUE DE SOBRA
O tempo é um adversário implacável. No fim, não há como derrotá-lo. Gelson Ceolin sabe que uma hora terá de pendurar as chuteiras, mas, com cuidados extras, é possível continuar a jogar. Por enquanto, a aposentadoria dos gramados é um assunto que ele procura driblar.

style="width: 50%; float: right;" data-filename="retriever">- Quero jogar, pelo menos, até os 65 anos. Faço caminhada e exercícios durante a semana para poder chegar no sábado e dar o melhor de mim em campo. Como tenho hipertensão arterial, essa rotina me ajuda a manter esses problemas de saúde controlados também - afirma o comerciante, que é zagueiro, lateral e "o que mais precisar" na equipe do Clube São Miguel.

Essa estratégia, aos 62 anos, proporciona que ele continue a jogar futebol em uma idade que muitos não associam ao vigor da juventude. Com quatro filhos e cinco netos, o pique já não é mais o mesmo de 30 anos atrás, mas o mais importante é confraternizar com os amigos de time.

- Desde que me conheço por gente sempre joguei futebol. Procuramos fazer o time pra incentivar o pessoal, não é fácil porque tudo vai dinheiro, mas a turma é unida - conta o camisa 15.

TRÉGUA NA PANDEMIA
Com a pandemia, o campeonato organizado pela Associação de Futebol de Veteranos de Santa Maria (Afuvesma) não ocorreu no último ano. Para os veteranos, não poder bater uma bolinha no final de semana foi um sacrifício.

- Nesta idade, não é mais tão fácil voltar depois de um tempo parado. Tem jogador que entra em campo 15 minutos e já cansa. Mas a gente vai revezando - relata Ceolin.

E a vontade de estar dentro das quatro linhas é tanta que, mesmo quando a rodada é cancelada, os jogadores organizam um amistoso. Por causa da chuva e do gramado encharcado, a organização da Afuvesma transferiu os jogos do último final de semana, para evitar algum risco de lesão. Mesmo com barro, eles têm urgência em estar em campo:

- A gente não quer nunca mais ficar um final de semana sem jogar.

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Foto: Marcelo Oliveira (Especial)

GALETO GARANTIDO
Nesta temporada, a Afuvesma teve 1,5 mil jogadores inscritos nas sete categorias de disputa. Desse total, 350 têm 60 anos ou mais. O São Miguel, time do Gelson, perdeu as quatro partidas até agora. Mas um companheiro da equipe resume o sentimento dos veteranos:

- Não ganhamos nenhuma partida no campeonato deste ano, mas não tem problema. A gente gosta mesmo é de jogar junto. E é aquela história: se ganhar a gente faz um galetinho para comemorar; se perder, nós fazemos um galetinho para ver o que deu errado; e se empatar a gente arruma uma desculpa para fazer um galetinho também - se diverte Sidnei Nunes, 55 anos, uma das exceções no time dos 60 anos.

Associação de Futebol de Veteranos de Santa Maria (Afuvesma)

  • Criada em 1988
  • 7 categorias - 35, 40, 45, 50, 55, 60 e 65 anos
  • Times - 60 inscritos
  • Jogadores - 1,5 mil inscritos
  • São duas categorias para idosos - 60 anos (7 times e 150 atletas) e 65 anos (8 times e 200 atletas)
  • Antes da pandemia eram 1,8 mil atletas no total. Neste ano, 10 equipes não se inscreveram

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Foto: Renan Mattos (Diário)
Cleber Winckler da Silva (à esquerda) e Vitor Hugo Dal Molin (à direita) fazem parte do Gaudérios do Asfalto 

"A MELHOR IDADE É A QUE ESTAMOS"
 A liberdade e a adrenalina de viajar sentindo o vento no rosto são sensações que movem o técnico em informática Cleber Winckler da Silva, 61 anos, e o consultor financeiro, Vitor Hugo Dal Molin, 71. Os dois já passaram dos 60, têm alguns cabelos brancos e continuam apaixonados por motos. No currículo, acumulam viagens por todo o Brasil e pela América Latina em cima de duas rodas levando o nome de Santa Maria como bandeira.

A dupla integra o "Gaudérios do Asfalto", grupo criado em 1995 para reunir aventureiros que viajam de moto. São eles que organizam o Encontro de Motociclistas do Mercosul (Mercocycle), que ocorre na cidade. Wincler participa do grupo há 25 anos.

- Com 12 anos, eu já dava voltas de lambreta. Aos 18, comprei a primeira moto e, desde então, nunca fiquei sem uma moto para andar. Não me sinto velho, de jeito nenhum, e não penso em parar de andar. Eu acredito que a melhor idade é a que estamos. Para mim, 61 anos é a melhor idade - relata.

Junto do amigo Vitor Hugo, já foram a diversas viagens. A mais longa, até Ushuaia, no extremo sul da Argentina, durou 21 dias com cerca de 11 mil quilômetros rodados pilotando as motocicletas.

- Sinto-me muito bem fisicamente. Surgem algumas dores naturais após uma viagem longa, mas que até um jovem vai sentir, e não é nada que me impeça de seguir - conta Vitor Hugo que, aos 71 anos, trabalha, joga tênis, anda de moto e é guitarrista da banda Old Bikers.

Já se vão 20 anos desde que Vitor Hugo entrou para os Gaudérios. Mas a paixão por motos surgiu bem antes: ele ganhou a primeira motocicleta ainda nos anos de 1960. Desde então, já teve 12:

- Hoje, tenho duas motos: uma para andar na cidade e outra para viagem. Quando preciso sair, sempre saio de moto. O trânsito costuma ser bem complicado, mas a liberdade é o que nos motiva. É a moto que me mantém jovem de espírito.

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Foto: Renan Mattos (Diário)

ENCONTRO
As noites de quarta-feira são sagradas para o grupo de apaixonados por motocicletas. Na sede do Gaudérios do Asfalto, no Bairro Duque de Caxias, os integrantes se reúnem para um churrasco e para confraternizar. Em pauta, estão as próximas viagens.

- Sempre, no final de semana, nós estamos na estrada. A pandemia foi bem difícil, já estamos há quase dois anos sem fazer uma viagem longa. Neste período, ficamos andando por aqui, pela Quarta Colônia - revela Vitor Hugo.

Além das reuniões e da organização do Mercocycle, ele participa de ações como a Campanha do Agasalho e outras atividades sociais de arrecadação de donativos na cidade, palestras em escolas, para promover a consciência comunitária dentro do motociclismo.

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Foto: Pedro Piegas (Diário)
Integrantes das Grisalhas da Primavera têm aulas de ginástica duas vezes por semana

PIONEIRAS E DE BEM COM A VIDA
Há 37 anos, um grupo de mulheres começou a se reunir para um curso de corte e costura no Bairro Perpétuo Socorro, região norte de Santa Maria. A turma do intitulado Grisalhas da Primavera buscava uma fonte de renda alternativa e contemplava mulheres a partir dos 40 anos. Pouco tempo depois, linhas, tecidos e novelos deram espaço para a música e a ginástica. Hoje, esse, que é considerado o grupo da terceira idade mais antigo da cidade, segue ativo para proporcionar atividade física e bem-estar. O objetivo está estampado na camiseta do grupo: "vem ser feliz".

As aulas gratuitas reúnem cerca de 30 mulheres duas vezes por semana, às segundas e sextas-feiras, no salão da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. As atividades são direcionadas a mulheres a partir dos 40 anos, de toda a cidade.

A presidente das Grisalhas da Primavera, a pensionista Maria Helena Schllosser, 72 anos, integra o grupo há 12h.

- Eu me sinto muito bem. Eu não sinto isso de idade. Não tenho problema nenhum com a minha idade. Ainda não tenho nenhuma restrição. Procuro me manter sempre ativa. Na época em que estamos vivendo, não pode existir esse preconceito - declara.

Com música bem animada acompanhando os movimentos, as alunas fazem alongamento e dança. A prática de atividades faz bem a qualquer idade. Mas, para pessoas acima dos 60 anos, o benefício é ainda maior: as aulas em grupo trazem convívio social e interação, evitando o isolamento e diminuindo quadros de depressão.

- Para mim, é ótimo ter essa recreação "com as gurias" - conta a aposentada Lourdes Bortuluzzi Angelo, 74 anos.

Para além da atividade física, as Grisalhas da Primavera também se reúnem para conversar sobre temas diversos e organizar confraternizações.

- Trabalhamos com alongamento com dança aeróbica, fortalecimento muscular, equilíbrio, agilidade. Muitas não faziam nenhum tipo de atividade anteriormente. E, durante os primeiros meses de pandemia foi difícil, tivemos uma decadência física de algumas delas. Embora os programa continuassem de forma remota, eu gravava aulas e mandava vídeos para elas, mas não era a mesma coisa - explica Tiago Lima, 34 anos, professor de Educação Física.

Grisalhas da Primavera

  • style="width: 50%; float: right;" data-filename="retriever">Criado em 1984, oferece aulas de ginástica
  • Onde - Salão da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (Rua Castro Alves, nº 300)
  • Quando - Segundas e sextas-feiras, das 15h às 16h
  • Quem - Qualquer mulher que tenha mais de 40 anos

Benefícios do exercício físico após os 60 anos:

  • Aumento da capacidade cardiorrespiratória (menor fadiga)
  • Ganho de massa muscular (evitando sarcopenia)
  • Aumento de massa óssea (evitando osteoporose)
  • Redução da gordura corporal e, consequentemente, prevenção da obesidade
  • Estabilização da articulação pelo fortalecimento da musculatura;
  • Redução do risco de doenças cardiovasculares, diabetes, colesterol, glicemia
  • Melhora do sono e ganho de disposição
  • Manutenção/melhora da funcionalidade como a velocidade da caminhada, realização das atividades de vida diárias e diminuição do risco de quedas

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